Ao longo dos séculos, o Santo Graal sempre foi motivo de mistério e especulação. Ainda hoje não se sabe exatamente o que era essa relíquia sagrada, tampouco seu paradeiro. Filmes, séries e livros, que usam o Graal em suas histórias, ajudam ainda mais a fomentar a curiosidade pelo suposto objeto, que já virou símbolo da cultura pop, tamanha é sua relevância e popularidade, principalmente na arte.
Mas o que seria, de fato, essa relíquia sagrada?
Origem do Santo Graal
De acordo com o Cristianismo, o Santo Graal provavelmente foi o cálice que Jesus usou na Última Ceia. Mas essa informação ainda hoje não é confirmada. O Graal, embora seja muito associado à imagem de um cálice, não seria bem uma taça. Estudiosos e historiadores afirmam que o formato da taça como a conhecemos teria surgido oficialmente muito tempo depois de Jesus, provavelmente durante a Idade Média, quando o objeto começou a ser usado. Na verdade, o 'verdadeiro Graal', que teria sido usado por Jesus na Última Ceia e também por José de Arimateia após a crucificação de Jesus, teria um formato bem diferente do cálice como conhecemos.
Provavelmente o Graal pode ter sido algo como um copo, uma cuia, um prato, uma tigela de cerâmica ou madeira ou uma simples vasilha ou pedra que foi usada por Jesus para cortar o pão na Última Ceia. A ideia do Graal ser uma tigela de cerâmica ou madeira se baseia no fato de que, na época, esses utensílios eram usados pela população de origem mais humilde. Por conta disso, e pelo tempo decorrido, é bastante provável que, se o Graal foi realmente um utensílio usado por Jesus, este não exista mais.
A polêmica do que seria o Graal ficou ainda mais forte depois do livro de Dan Brown, "O Código da Vinci" (e do filme baseado no livro), onde supôs-se que o Graal na verdade seria uma pessoa, a linhagem sagrada de Cristo, já que ele teria se envolvido com Maria Madalena e os dois teriam tido um filho. Essa também é uma das lendas e histórias envolvendo o Graal. Nesse contexto, a palavra Graal significaria Sangreal, ou Sangue Real. Porém, essa tese, apesar de possível, já que Jesus veio como homem e não faz sentido que ele não tenha se envolvido amorosamente com ninguém, nunca foi confirmada como verdadeira. Essa tese também se baseia no fato de que, naquela época, era muitíssimo comum que homens na idade de Jesus já fossem casados, e o celibato, quando praticado por homens, não era visto com bons olhos no meio social. Além disso, em nenhuma parte dos evangelhos é citado o estado civil de Jesus (nem que ele era solteiro e nem que era casado), o que dá muitas margens para diversas interpretações em torno dessa teoria de Jesus e Maria Madalena.
Uma das obras mais famosas que ajudou a popularizar essa tese (e que Dan Brown se baseou para compor o romance), é o quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci. Analisando a pintura, há uma figura ao lado de Jesus que possui traços femininos. Essa figura possivelmente seria Maria Madalena. A polêmica do quadro se dá pelo fato de que, segundo teorias, Leonardo da Vinci faria parte de uma sociedade secreta chamada Priorado de Sião, que seria responsável por guardar o segredo do Santo Graal; no caso, o filho de Jesus com Maria Madalena e a linhagem sagrada, do resto da humanidade. Porém, de uma forma enigmática, da Vinci teria deixado algumas pistas sobre esse bombástico segredo em suas obras, como esse quadro.
"A Última Ceia", de Leonardo da Vinci |
A história da origem do Graal ainda é incerta. José de Arimatéia, personagem bíblico citado no Novo Testamento, teria presenciado a crucificação de Jesus, tendo recolhido o sangue de Cristo com uma espécie de tigela. Esse sangue teria sido jorrado da costela através de uma ferida feita com uma lança por um soldado romano (o chamado "golpe de misericórdia"). Por ter sido considerado um discípulo de Jesus, José de Arimateia foi preso e, tempos depois, libertado, quando resolveu peregrinar, levando o Graal consigo. Ele teria ido, então, para Glastonbury, Inglaterra, onde construiu uma pequena capela, enterrando o Santo Graal em algum ponto do local. Muitos anos mais tarde, a Abadia de Glastonbury foi construída exatamente no mesmo local onde estava antes a capela, porém o objeto nunca foi localizado. Até hoje o Graal ainda é procurado por quem visita o local.
Ruínas da Abadia de Glastonbury |
Sabe-se que a história sobre o Santo Graal é muito mais antiga do que o Cristianismo e possivelmente começou com os povos celtas, que acreditavam em uma espécie de "caldeirão mágico" ou "caldeirão da abundância". Esse grande objeto podia ser usado para dar vida aos guerreiros mortos que eram mergulhados nele, curar feridas e realizar desejos. Em outra versão da lenda, o "caldeirão mágico" é transformado na "tigela mágica", que seria capaz de realizar os mesmos feitos para quem comesse ou bebesse nessa tigela. Os povos gregos também acreditavam em um recipiente com as mesmas características mágicas, a chamada "Cornucópia". Até hoje, a Cornucópia é usada como um símbolo de fertilidade e fartura. Durante a Idade Média, para melhor conversão dos povos pagãos, muitos mitos e lendas antigos foram adaptados para o Cristianismo; dessa forma, é provável que com o Graal tenha acontecido o mesmo.
Representação da Cornucópia |
Mitos e mistérios envolvendo o Graal
Há uma série de histórias e lendas envolvendo o Graal e seu paradeiro. As histórias começaram a surgir, possivelmente, na Idade Média. Porém, até os dias atuais, nenhuma delas é comprovada, não passando de especulações, o que ajuda a fomentar ainda mais a curiosidade nessa relíquia ao longo dos séculos. Ainda hoje muitas igrejas na Europa afirmam possuir o verdadeiro Graal, que seria um cálice. De fato, não há como saber a verdade (são mais de 200 igrejas que atestam), já que a própria Igreja Católica sequer confirma a existência do objeto. A igreja mais famosa que afirma ter o verdadeiro Graal é a Catedral de Valência, na Espanha.
O suposto "Graal" na Catedral de Valência, Espanha |
Catedral de Valência, Espanha |
Provavelmente, o mito do Santo Graal foi criado por volta de 1180, na Idade Média, através do francês Chrétien de Troyes, que foi uma das primeiras pessoas a escrever sobre o objeto (foi ele quem batizou de "Graal" a relíquia), com o poema "Le conte du Graal" (O Conto do Graal). Anos mais tarde, o Graal também se popularizaria através do poeta francês Robert de Boron, que publicou a obra Roman de L'Histoire du Graal, tornando-se a versão mais popular da história como a conhecemos.
As histórias mais famosas sobre o Graal são as que envolvem os Templários e o Rei Arthur, e provavelmente a história sobre a origem do Graal está atrelada ao mítico rei da Grã Bretanha (por conta da Abadia de Glastonbury).
Rei Arthur e a Távola Redonda
Segundo uma das histórias, o lendário rei Arthur teria tido uma visão onde somente o Graal traria a paz e poderia salvar o reino de Camelot. Dessa forma, ele instruiu seus cavaleiros mais corajosos, os chamados "Cavaleiros da Távola Redonda" a partir em busca do Santo Graal, porém, sem jamais encontrá-lo. Nas primeiras lendas envolvendo o rei Arthur e a busca pelo Graal, a relíquia é descrita como o "Caldeirão Mágico" celta. Em quase todas as versões das lendas arturianas, misturam-se elementos cristãos e pagãos relacionados com a cultura celta.
O Santo Graal e os Templários
Quando falamos no Graal, automaticamente lembramos dos Cavaleiros Templários. Há muitas lendas envolvendo os Templários, mas uma das mais famosas é, com certeza, a que envolve o Graal. Segundo a história, os Templários foram guardiões dessa relíquia sagrada, e responsáveis por mantê-la segura e longe dos olhos do público.
A lenda começa com a construção do Templo de Salomão pelos Cavaleiros, em Jerusalém. Quando a ordem foi fundada, em 1118, pelo cavaleiro francês Hugo de Payens, o rei francês Balduíno II deu aos templários como residência parte do que ele julgava ser o Templo de Salomão. Nesse local, os Templários teriam achado muitos tesouros e relíquias, incluindo o Graal. Levaram, então, o Graal para a Europa, mas, ao invés de entregarem ao Papa, preferiram deixar o objeto sob os cuidados de outra Ordem, os Cátaros, que eram contrários à Igreja Católica (eles eram inclusive considerados Hereges pela Igreja). Como estavam fugindo o tempo todo, os Cátaros esconderam o Graal em diversos locais diferentes (a maioria castelos), até o objeto acabar se perdendo no tempo e na história.
Os Templários também aparecem nas lendas envolvendo Maria Madalena. Eles ficaram responsáveis por protegê-la e também seu filho (que seria de Jesus - algumas versões da lenda sugerem que seriam dois filhos), quando, após a crucificação de Jesus, ela e o filho teriam fugido para a França (também há versões da história onde ela ainda estaria grávida). Após a dissolução dos Templários, em 1312, outra ordem (que era uma seita secreta), o Priorado de Sião, seria responsável pela guarda do segredo do Graal.
Cavaleiro Templário |
Por conta do Graal se basear em várias lendas e histórias desencontradas, é improvável afirmar a existência do objeto (ou da linhagem de Jesus). A própria Igreja Católica não reconhece a história do Graal como algo verídico, e sim como um mito medieval que foi sendo criado e incorporado com várias versões da lenda.
Para conhecer mais a fundo
Diversos são os filmes e séries que retratam a descoberta e história do Graal. O mais recente que assisti, que trata o Graal como um cálice de metal, é a série inglesa Knightfall ("Templários" - resenha aqui), onde mostra os Cavaleiros Templários como responsáveis pela guarda do objeto. Porém, embora a série mostre algumas coisas sobre a lenda do Graal, a história não gira em torno disso. Outros filmes/livros bastante famosos são o já citado O Código da Vinci de Dan Brown, a série As Aventuras de Merlin (que conta sobre a lenda arturiana) e o filme Indiana Jones e a Última Cruzada, onde o aventureiro sai em busca da relíquia sagrada.
No youtube há bons documentários que eu indico para quem quiser conhecer mais detalhadamente a história do Graal. Esses documentários, inclusive, me ajudaram a compor esse texto, e são "O Santo Graal: em busca do tesouro sagrado" (History Channel), "O Graal e os Templarios" (History) e "Relíquias do passado: o Santo Graal" (Discovery Channel).
Um livro muito bom que indico para uma leitura mais aprofundada sobre os Templários e o Graal, é "Os Cavaleiros de Cristo", Coleção Verdades Ocultas. Nesse livro, é possível conhecer com detalhes a fundação da ordem, as relíquias e templos medievais espalhados pela Europa, as lendas, ocultismo e textos templários, escritos pelos próprios Cavaleiros, na época. Esse livro eu comprei em banca de jornal mesmo, mas há algum tempo. Possivelmente você vai encontrar em alguns sebos ou na Estante Virtual.
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