sábado, 9 de maio de 2020

Os Cavaleiros Templários

Hoje o post vai ser dedicado aos Cavaleiros Templários, uma das maiores ordens cristãs que foi dizimada cruelmente. Suas roupas brancas com cruzes vermelhas e suas fortes armaduras fizeram destes homens grandes guerreiros imortalizados até hoje em histórias e no nosso imaginário. 

Os Templários tiveram por objetivo propagar a fé cristã e defendê-la, cuidando das terras de Jerusalém, recém conquistadas durante a primeira Cruzada contra os muçulmanos, e protegendo de ataques os fiéis cristãos que faziam peregrinação na cidade. A história desses cavaleiros surge por volta de 1118, na Idade Média, e durou cerca de de dois séculos, até 1312.



A ordem dos Cavaleiros Templários

A Ordem dos Cavaleiros Templários foi fundada em 1118, pelo cavaleiro francês Hugo de Payens,  junto com oito companheiros e o rei francês Balduíno II, após as primeiras Cruzadas. O rei deu aos Cavaleiros como residência parte do que ele julgava ser o Templo de Salomão, e é dai que surge o nome Templários. Depois de aprovada pelo papa Honório em 1128, a ordem ganhou força e tornou-se poderosa, crescendo rapidamente.

Seu número de membros também cresceu significativamente. O crescimento rápido da ordem foi devido à vinculação direta à Igreja Católica, muito poderosa na época, e de sua força militar. Além de religiosos, os cavaleiros eram ótimos guerreiros. A influência da ordem foi tão grande que em 1139 o papa Inocêncio II assinou um documento onde declarou que os Cavaleiros Templários não obedeciam a nenhuma ordem do estado, somente ao Papa.

Os Cavaleiros fizeram votos de pobreza e castidade, tornando-se monges.  O sucesso da ordem esteve vinculado diretamente às Cruzadas. Sua rotina se limitava basicamente em fazer diversas orações ao longo do dia, além de, em datas pré estabelecidas, abster-se de carne e realizar o jejum. Era proibido fazer a barba, caçar (leões eram permitidos), possuir mais de 3 cavalos (o grão-mestre podia ter 4) e, principalmente, ter qualquer contato com mulheres. Também deveriam dormir de botas e calças, para sempre estarem prontos caso precisassem lutar, mas diz a lenda que a calça servia para impedir que os Cavaleiros fornicassem entre eles, devido ao celibato.

Eram rígidos nas batalhas. O companheiro que fosse capturado, provavelmente morreria, pois a ordem não fazia resgates e nem pagava quantias para que fossem libertados. Aquele que saísse da linha poderia ser açoitado, obrigado a comer comida no chão com os cachorros durante um ano ou ser queimado com ferro. Além disso, os segredos dos cavaleiros não podiam ser revelados fora do mosteiro, o que acabou prejudicando a ordem, pois isso deu o gancho necessário para que, posteriormente, poderosos da época dissessem que os cavaleiros participavam de rituais pagãos.

O emblema dos Templários era um cavalo com dois cavaleiros, simbolizando a pobreza e a fraternidade. Sua bandeira era branca e preta e era chamada de Beauseant, uma clara homenagem aos cavalos malhados, prediletos pelos fundadores da ordem. Beauseant também era seu grito de guerra.

        

A iniciação Templária

No topo da hierarquia dos templários havia o grão mestre. Abaixo dele, um grão principal chefiava os diversos grupos da ordem espalhados, chamados capítulos. Rapazes de famílias nobres eram recrutados e formavam o corpo de oficiais da ordem (os mantos brancos com a cruz). Quem não tinha títulos e vinha de família pobre formava uma segunda linha de soldados, chamada de Irmãos Servidores e, diferente dos Templários, usavam mantos castanhos ou negros. Abaixo deles, vinham os escalões inferiores ou escudeiros, atendentes e serviçais que cuidavam das propriedades e castelos dos Cavaleiros.

A iniciação era realizada na casa de quem iniciaria um novo cavaleiro. Era extremamente e altamente secreta e era realizada de madrugada (quando todos estavam dormindo), o que gerou muitas especulações sobre o que realmente acontecia lá dentro. O grão prior fazia várias vezes a mesma pergunta, se os cavaleiros ali reunidos tinham qualquer objeção à entrada de um novo membro. Se ninguém se opusesse, o grão prior prosseguia na cerimônia, deixando claras as regras para o novo cavaleiro. Perguntava se o cavaleiro tinha esposa e/ou família, dívidas, doenças ou se devia vassalagem a algum senhor. Se a resposta fosse não para todas as perguntas, então, o cavaleiro se ajoelhava e pedia para ser um "servidor e escravo" do Templo e jurava obediência em nome de Deus e de Virgem Maria. Então, o manto branco era posto sobre seus ombros e ele era recebido como um novo membro da ordem.


                                 

Enriquecimento da Ordem

Os Templários foram isentos de pagar impostos e, com isso, foram acumulando bens e riquezas. Com o passar dos anos, a ordem ficou muito poderosa e rica, recebendo, inclusive, doações de terras na Europa. Ganharam também poder político, militar e econômico, o que acabou permitindo estabelecer uma rede de grande influência no continente. A ordem, que se chamava inicialmente Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, surpreendeu muita gente quando todos descobriram suas riquezas. Era estranho homens que fizeram votos de pobreza serem tão ricos agora. 

Provavelmente os Templários foram os pioneiros nas negociações bancárias. Como estavam sempre viajando, muitos nobres que precisavam transportar dinheiro pediam ajuda aos Templários, já que ninguém ousaria roubar os cavaleiros (esses nobres acabavam por guardar dinheiro e bens nas dependências dos mosteiros templários, já que eram lugares extremamente seguros). Para esse serviço, os Templários cobravam uma quantia do valor como pagamento. Eles também forneciam aos nobres uma espécie de recibo, para que estes pudessem 'sacar' uma determinada quantidade de dinheiro no mosteiro de outra cidade.  Nascia ai o que séculos mais tarde a gente conheceria como 'cheque'. Para isso, os Templários criaram alguns códigos secretos, baseados na Cruz de malta, que serviam para serem usados nas transações entre os mosteiros.

Com o dinheiro ganhado, eles passaram também a emprestar dinheiro para nobres em dificuldades (quando esse dinheiro fosse devolvido, seria acrescido de juros). Dessa forma, eles foram enriquecendo. Com a grande riqueza dos Templários, muitos conspiraram para que a ordem tivesse um fim.

Acusação e condenação dos Templários

Um dos nobres que estava em dívida com os Templários era o Rei Filipe IV, O Belo. Dessa forma, ele conspirou para que a Ordem chegasse ao fim. Ainda não se sabe exatamente o motivo de Filipe ter planejado destruir a Ordem; o mais provável é que o rei era um grande devedor ou estava de olho nas riquezas dos Templários. 

Na manhã do dia 13 de agosto de 1307,  uma sexta-feira (muitos acreditam que a origem dos azares da sexta-feira 13 vêm dessa data), todos os Templários foram acusados de heresia por Filipe, e suas prisões foram decretadas. Dentre as acusações, estava negar Cristo ao serem admitidos na Ordem, chutar a cruz, trocar beijos obscenos, praticar sodomia e ter relações homossexuais entre os membros, além de cultuar Baphomet (uma criatura simbólica presente no ocultismo) e adorar o diabo em seus rituais secretos (lembra que eu falei que o fato dos rituais de iniciação dos Templários serem ultra secretos poderia acarretar muitas especulações?!). Vale dizer que, na Idade Média, com a força da Igreja Católica de manipular a cabeça das pessoas, havia muita tensão e medo da figura do Diabo, e quase qualquer coisa era motivo para acusações de heresia. 

 
   
Baphomet, a figura mítica que os Templários foram acusados de cultuar

O Papa  Clemente V, ao saber da prisão decretada pelo rei, emitiu uma bula papal em 22 de novembro de 1307 e decretou que os Templários fossem presos e suas propriedades confiscadas pela Igreja. O mais provável é que o Papa tenha feito isso para não ter sua autoridade reduzida, visto que a Ordem dos Templários obedecia somente a ele e, também, para não bater de frente com o rei Filipe. Por conta disso, Clemente V passou a ser considerado fraco e manipulável.

Os Templários foram acusados de uma série de heresias, somando 127 acusações diferentes. Vou listar um resumo das dez principais, que eram:

- Os Templários negavam Cristo ao serem admitidos na Ordem. Davam tapas na cruz e a profanavam;
- Eles juravam não revelar o que era dito quando de sua admissão;
- Trocavam beijos obscenos na admissão;
- Não acreditavam em nenhum sacramento da igreja, incluindo a missa;
- Para eles, o mestre, o supervisor e o comendador podiam absolvê-los de seus pecados, atributo exclusivo de padres ordenados;
- Praticavam sodomia;
- Não faziam doações caridosas, como lhes era devido, nem praticavam a hospitalidade;
- Realizavam reuniões sigilosas em segredo, à note;
- Veneravam um ídolo, uma cabeça masculina barbada que tinha grandes poderes, e usavam na cintura uma corda que havia sido amarrada na tal cabeça;
- Praticavam a homossexualidade ritual entre si.

Um mês depois, o Papa Clemente V autorizou o rei a prender todos os Templários, tomando posse de suas propriedades. Após as prisões, começou o julgamento (à base de tortura, como a Inquisição) e, apenas um mês depois, mais de 36 soldados haviam morrido, vítimas de tortura. Na época, a forma mais tradicional de tortura era a mesa esticadora (foto abaixo), que puxava a pessoa pelos membros, aliviava um pouco e puxava de novo, rompendo tendões nos pulsos e pés.

Mesa Esticadora
Fim da Ordem

Três anos depois, em 1310, 54 cavaleiros foram queimados na fogueira. Depois que a poeira abaixou, o próprio Papa Clemente V admitiu que não havia provas de heresia, apenas suposições, mas mesmo assim os Cavaleiros continuaram sendo perseguidos. Sendo pressionado pelo rei, o Papa, através da bula Vox In Excelso,  acabou ordenando a dissolução da Ordem e a transferência de todos os bens dos Templários em toda a Europa, com exceção da Península Ibérica, para outra Ordem, a dos Hospitalários.

Com o fim da Ordem, os Templários que sobreviveram poderiam escolher entre se juntar a outra ordem ou voltar à vida normal. O último grão mestre dos cavaleiros, Jaccques de Molay, porém, não teve essa sorte. Quando foi para julgamento, sob tortura, se recusou a falar mentiras, alegando que todos os cavaleiros eram inocentes. Acabou indo para a fogueira. Em 18 de março de 1314, entre as chamas, amaldiçoou o Papa Clemente V, o Rei Filipe IV e Guilherme de Nogaret, conselheiro do rei e um dos principais articuladores da prisão dos Templários, dizendo que os veria em um julgamento justo. Disse que, se os Templários tivessem sido injustamente condenados, o Papa Clemente seria convocado em 40 dias, e o rei Filipe e Nogaret, em no máximo um ano, para o julgamento de Deus.

Jacques DeMolay, em representação do século XIX. Não há retratos do grão-mestre em vida

Magia Templária: coincidência ou verdade?

(Esse trecho e a figura foram retirados do livro "Wicca - Mistérios do Passado: Os druidas e os Templários", da escritora Eddie Van Feu. O trecho foi levemente adaptado por mim)

O mais curioso dessa maldição dita por Jaccques de Molay é que ela realmente aconteceu e o Papa Clemente, o rei Filipe e Guilherme de Nogaret acabaram morrendo dentro do tempo previsto. A imagem a seguir foi descoberta desenhada nas paredes das masmorras onde 50 Templários foram aprisionados e onde muitos foram mortos sob tortura. Durante sete dias consecutivos, sete templários se revezavam diante desse desenho, amaldiçoando o Papa Clemente V.  Nessa imagem, vemos uma espécie de serpente (que mais parece um dragão, os Templários não eram muito bons no desenho), que representa a energia telúrica (energia negativa e destruidora da Terra), e em seu ventre está escrito "Clemente V, o destruidor do Templo" (provavelmente no idioma dos Templários).

A impressão é de que a serpente está em chamas e pronto para devorá-lo. Os atributos papais estão invertidos nas suas mãos e o anjo vingador (São Miguel) espeta sua lança na serpente para atiçá-la . À esquerda, o desenho da cruz templária serve como um selo para fechar o feitiço.

 Mesmo o desenho não sendo lá aquelas coisas, por incrível que pareça, funcionou! Depois de 33 dias de sofrimento, o Papa morreu de uma doença misteriosa. Em menos de um ano, o rei Filipe também morreu, mas de uma forma ainda incerta. Sabe-se que ele foi à uma caçada; existem duas teorias possíveis: a primeira é de que ele foi atacado por um javali, e a segunda é a de que ele estava caçando um cervo e, nos chifres do cervo, avistou uma cruz, caiu do cavalo em delírio e morreu dias depois.  Ambos foram atormentados por terríveis visões, além de dores indescritíveis.

Guilherme de Nogaret faleceu poucas semanas após Jacques de Molay, numa manhã em abril de 1314, envenenado. Enquanto vomitava sangue e tinha diversas cãibras, gritava o nome daqueles que havia indiretamente assassinado.


                                    

Mitos e lendas envolvendo os Templários

A pouca quantidade de informações sobre os Templários ajudam a fomentar alguns mitos e lendas em torno deles. O pouco material escrito que havia da época sobre os Cavaleiros, que se encontrava na Ilha de Chipre, foi destruído em 1571 pelos otomanos. Uma das maiores lendas envolvendo os Templários é sobre o Santo Graal. Até hoje não se sabe realmente o que seria essa relíquia religiosa, nem tampouco se os Cavaleiros de fato a protegiam.

O Santo Graal, embora seja muito associado à imagem de um cálice, não seria bem uma taça. Estudiosos e historiadores afirmam que o formato da taça como a conhecemos teria surgido oficialmente muito tempo depois de Jesus, provavelmente durante a Idade Média, quando o objeto começou a ser usado. Na verdade, o 'verdadeiro Graal' que teria sido usado por Jesus na ceia e também por José de Arimateia após a crucificação de Jesus, teria um formato bem diferente do cálice como conhecemos, podendo ser algo como um copo, uma cuia ou um prato. A polêmica do que seria o Graal ficou ainda mais forte depois do livro de Dan Brown, "O código da Vinci" (e do filme baseado no livro), onde supôs-se que o Graal na verdade seria uma pessoa, a linhagem sagrada de Cristo.

Segundo as lendas, o Graal teria ficado sob proteção dos Templários após estes terem encontrado a relíquia dentro do Templo de Salomão. Porém, não há nenhum indício, dado ou materiais escritos da época que sugerem ou sequer citam o Graal.

Outra lenda envolvendo os Templários é sobre sua ligação com a Maçonaria. Porém, não há comprovações históricas de que os Cavaleiros possivelmente deram origem à Maçonaria ou estavam conectados a ela de alguma forma, visto que essa sociedade secreta foi fundada somente em 1717, na Inglaterra, quatro séculos após o fim da Ordem dos Templários.



Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a Ordem, indico a série Knightfall (fiz uma resenha da série e você pode ler aqui), que é uma série de ficção histórica baseada nos Templários. É legal assistir por conta da ambientação e trajes, já que a trama não é fiel a todos os acontecimentos originais.




Também indico um livro que li e me ajudou muito a conhecer mais sobre a Ordem, chamado "Os Cavaleiros de Cristo", Coleção Verdades Ocultas. Nesse livro, é possível conhecer com detalhes a fundação da ordem, as relíquias e templos medievais espalhados pela Europa, as lendas, ocultismo e textos templários, escritos pelos próprios Cavaleiros, na época. Esse livro eu comprei em banca de jornal mesmo, mas há algum tempo. Possivelmente você vai encontrar em alguns sebos ou na Estante Virtual.

    


E dois filmes muito legais que indico são: Arn, o Cavaleiro Templário (The Knight Templar), do diretor Peter Flinth, que conta a história do nobre Arn Magnusson (Joakim Natterqvist) que foi criado em um mosteiro para tornar-se um monge guerreiro. O filme mostra algumas batalhas dos Templários na Terra Santa.




O outro filme é Cruzada (Kingdom of Heaven), do diretor Ridley Scott, que conta a história de Balian (Orlando Bloom), um ferreiro francês que dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa, após a morte de sua esposa e filho. O filme não é especificamente sobre os Templários, mas mostra algumas coisas da Cruzada que achei interessantes. Curiosidade: a hamburgueria temática Taverna Medieval, em São Paulo, possui, exposto em suas dependências, um traje original do filme.






Bibliografia consultada:

Os Cavaleiros de Cristo - Coleção Verdades Ocultas, editora Escala, 2015

Wicca 54 - As Ordens de Cavalaria: da Idade Média aos dias de hoje, Eddie Van Feu, Editora Modus

Wicca 41 - Mistérios do Passado: os Druidas e os Templários, Eddie Van Feu, Editora Modus

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