terça-feira, 21 de abril de 2020

A sacralidade e a beleza do Canto Gregoriano


Desde pequena, não sei explicar o porquê, eu sou apaixonada por Canto Gregoriano. Não lembro exatamente onde conheci, mas toda vez que escuto tenho impressão de que me sinto em casa, um misto de relaxamento e tranquilidade, como se eu já tivesse feito parte disso. É uma sensação estranha (vidas passadas, talvez?!), e desde então eu venho pesquisado a respeito.

O Canto Gregoriano, também conhecido como cantochão, é um tipo de música sacra herdado da Igreja Católica Medieval. Criado pelo papa Gregório Magno (que comandou a Igreja entre os anos 590 a 604) no século VI (daí vem o nome "Gregoriano"), foi adotado pela Igreja como um tipo de oração cantada, um momento meditativo. Cantado em latim e sem instrumentos (vez ou outra é acompanhado de órgão ou piano), possui uma só melodia. É um canto litúrgico que era muito utilizado nas missas. As vozes acabavam por se ampliar devido à acústica das Catedrais, o que criava um efeito sonoro diferente.

Além do Canto Gregoriano, o papa Gregório Magno também fundou a Schola Cantorum, uma instituição que tinha por finalidade ensinar e aprimorar o canto litúrgico. Muitos monges foram enviados à Roma para aprender mais sobre a técnica e, posteriormente, levá-la à comunidade paroquial a qual pertenciam. No início de sua criação, o Canto Gregoriano era composto somente de salmos e frases bíblicas. Com o passar do tempo,  os monges passaram também a compor músicas e poemas para serem cantados liturgicamente, em latim. A autoria de grande parte dos cantos ainda hoje é desconhecida; o que se sabe é que a maioria das composições foi criada pelos monges de antigos mosteiros espalhados pela Europa medieval. 



"Quem canta, ora duas vezes"

Desde seu nascimento, a música cristã foi uma oração cantada, que devia ser realizada não de maneira puramente material, mas com devoção ou, como dizia São Paulo, "cantando a Deus em vosso coração". O texto era então a razão de ser do Canto Gregoriano. Na realidade, o canto do texto é baseado no princípio de que, de acordo com Santo Agostinho, "quem canta, ora duas vezes". O Canto Gregoriano jamais poderá ser entendido sem o texto, o qual tem prioridade sobre a melodia e é o que lhe dá sentido. Portanto, ao interpretá-lo, os cantores devem ter entendido muito bem o sentido do texto. Em consequência, deve-se evitar qualquer imposição de voz de tipo operístico em que se procure o esplendor do intérprete.

O Canto Gregoriano é a origem dos modos gregorianos (escalas), que são a base da música ocidental. Deles vem o modo maior e menor, e outros cinco menos conhecidos. Canta-se em uníssono  - somente uma nota por vez - o que quer dizer que todos os cantores entoam a mesma melodia, em ritmo livre, de acordo com o desenvolvimento do texto literário. É uma música modal, escrita em escalas particulares de sons. Acreditava-se que estas escalas (e não a música criada a partir delas), serviam para despertar sentimentos variados, como meditação, alegria, tristeza, serenidade, entre outros. Sua melodia ás vezes é silábica (quando cada sílaba do texto corresponde a um som), e ás vezes melismática (quando uma sílaba corresponde a vários sons).

Antifonário contendo os textos do Canto Gregoriano

O texto é em latim, língua oficial do Império Romano estendida pela Europa (ainda não existiam as línguas românicas). Estes textos foram tomados dos salmos e de outros livros do Antigo Testamento. Alguns provinham dos evangelhos e outros eram inspiração própria, geralmente anônima. No entanto, existem algumas peças litúrgicas em língua grega. O Canto Gregoriano está escrito sobre tetragramas, ou seja, sobre quatro linhas, diferentemente do pentagrama (cinco linhas) da música atual. As notas são denominadas quadradas (punctum quadratum, ou "ponto quadrado").

O auge desse canto litúrgico foi na Alta Idade Média (anos 476 a 1000). Na época de sua criação, o Canto Gregoriano foi considerado uma música elevada, pura, em oposição aos outros tipos de músicas populares da época, que eram vistas como profanas. 

Mesmo tendo surgido na época medieval, muitos mosteiros ainda utilizam esse canto sacro em suas missas. O Mosteiro de São Bento, por exemplo, conta com missas celebradas com Canto Gregoriano todos os domingos, às 10h. As missas e os cantos também são acompanhados por um órgão.

Para quem quiser ouvir um pouco de Canto Gregoriano, indico esse vídeo com uma apresentação dos Monges do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, na Catedral de São Francisco das Chagas, em Taubaté. É lindo demais <3




E para quem quiser conhecer mais a respeito, indico o site Canto Gregoriano Brasil, que tem por finalidade divulgar e promover o Canto Gregoriano em razão de sua relação intrínseca com a Missa celebrada no Rito Romano Tradicional.


Antifonário contendo os textos do Canto Gregoriano

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