quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Vila Maria Zelia - a centenária vila industrial do Belenzinho

Hoje vou mostrar pra vocês um lugarzinho incrível que fica na zona leste de São Paulo. É a Vila Maria Zélia, uma vila operária fundada em 1917 que ainda mantém grande parte de sua arquitetura antiga. Além de ter se tornado um patrimônio tombado, a vila também abriga grupos de teatro e conta com apresentações artístico/culturais durante todo o ano, além de diversos eventos.

A vila fica localizada no bairro do Belenzinho, perto do AME Maria Zélia e da Avenida Celso Garcia/Brás. É um local super escondido, mas acessível para quem vai de carro ou transporte público. Eu particularmente gosto muito de conhecer e visitar lugares antigos, tanto pela bagagem histórico/cultural, tanto por gosto pessoal por arquiteturas de outras épocas, então essa vila foi uma feliz descoberta.

antigo armazém. Foto: VejaSP

História da Vila

A Vila Maria Zélia é uma das primeiras vilas industriais do Brasil e foi construída no início do século XX. Nessa época, as primeiras indústrias começaram a se instalar no bairro do Belém, como consequência da expansão industrial. A vila começou a ser construída em 1911 para abrigar as residências e áreas de uso coletivo dos operários da fábrica da Companhia Nacional de Tecidos de Juta. Além do Belém, outros bairros como a Moóca, Brás e Pari também eram conhecidos como bairros operários. As vilas começaram a ser construídas perto das fábricas por dois motivos: melhorar as políticas públicas de moradia, já que muitos operários viviam com suas famílias em lugares insalubres, como cortiços, e vigiar de perto os funcionários, já que eles trabalhavam praticamente ao lado de onde moravam. 

Inaugurada em 1917, a vila foi idealizada pelo médico e industrial Jorge Street, com o projeto de criação, inspirado nas vilas europeiasatribuído ao arquiteto Paul Pedraurrieux. Além de construir residências para os trabalhadores locais, a vila também tinha como proposta a construção de uma creche, farmácia, açougue, duas escolas e igreja, além de espaços para festas, como amplos salões. Tempos após sua inauguração, a vila e a fábrica passaram a pertencer, devido a problemas financeiros, à família Scarpa, tornando-se  "Vila Scarpa". Posteriormente, a vila foi passada para a família Guinle, também por problemas financeiros, e seu nome foi novamente alterado para "Vila Maria Zélia", em homenagem à filha de Jorge Street, que morreu de tuberculose ainda jovem. Em meados da década de 1930, o INSS assumiu a vila em consequência de dívidas fiscais. A fábrica de tecidos foi fechada e os moradores da vila permaneceram, não estando mais vinculados à fábrica. 

O local foi tombado como patrimônio histórico em 09 de dezembro de 1992 por órgãos de preservação municipal (CONPREESP) e estadual (CONDEPHAAT). Atualmente a vila possui 171 casas particulares. O restante do local, como os armazéns, escolas, antigo açougue e escritório ainda pertencem ao INSS. 

Em 1996 foi criada, pelos próprios moradores, a Associação Cultural Vila Maria Zélia, com o objetivo de discutir as condições atuais da vila e buscar soluções para a preservação dos imóveis tombados, além de fechar parcerias com grupos de teatro e realizar eventos dentro da vila. 

Por que você deveria visitar?

A Vila Maria Zélia é uma verdadeira viagem no tempo. Ali dentro conseguimos imaginar como era a vida naquela época, além de ser um ambiente totalmente calmo e silencioso. O ponto alto, pra mim, é a Igreja, chamada Capela São José. Fica logo na entrada da vila, do lado esquerdo da portaria e, embora seja pequena,  é repleta de detalhes e traços da arquitetura da época. Eu não sei se vocês sabem, mas eu sou fissurada em igrejas antigas. Adoro ficar olhando a parte externa e depois entrar e analisar cada pedacinho de seu interior. Acho que talvez seja por isso que essa igreja tem um lugarzinho especial no meu coração toda vez que visito essa vila. Também há uma pracinha muito legal em frente à igreja, batizada carinhosamente de "Praça Jorge Street". De quando em quando também são realizadas algumas festas, como as já famosas quermesses. Ambiente bacana, comida boa e preços razoáveis. 

Capela São José. Foto: Adriana Vicente

Capela São José. Foto: Adriana Vicente

Capela São José. Foto: Adriana Vicente

Além da igreja, também há alguns lugares interessantes. As escolas antigas da vila estão abandonadas, e, pelo tempo que passou, algumas árvores e plantas começaram a crescer em seu interior. Em um dos locais abandonados, uma árvore cresceu na parte alta da parede. Não me perguntem como isso aconteceu, eu também fiquei encabulada haahahah

Foto: Adriana Vicente

Foto: Adriana Vicente

Foto: Adriana Vicente

Foto: Adriana Vicente

Para quem gosta de cultura independente, indico a vila por conta das apresentações de teatro que acontecem esporadicamente com o Grupo XIX de Teatro, que desde 2004 realiza residência artística no local, além de diversos eventos culturais que acontecem durante todo o ano. Atualmente está em cartaz a peça "In Cômodos", do coletivo de atrizes chamado "A Baixa Coletiva".  Já assisti duas vezes e recomendo muito!!!

Alimentado por obras de Virginia Woolf, Clarice Lispector, Susan Sontag e em escritos das próprias artistas criadoras, o experimento apresenta uma casa e suas moradoras. As paredes que limitam o espaço, o chão que as suporta e acolhe, as divisões que nos são impostas, e uma busca constante de todas nós em ser, só ser. As apresentações são sempre aos finais de semana às 16h e acontecem até dia 01/09.



Se você gosta de lugares antigos carregados de história e cultura local, no esquema de Paranapiacaba, recomendo a visita.  Com certeza você vai sair da vila maravilhado e com vontade de morar lá. Pelo menos foi essa primeira impressão que tive.  Você pode conhecer mais da vila através do site oficial, que você acessa clicando aqui. No site é possível ver mais fotos e conhecer a história da vila na íntegra, além de ficar por dentro dos eventos que acontecem.

A Vila Maria Zélia fica localizada na Rua dos Prazeres, 362, Belenzinho, São Paulo - SP.  Vá com calma para apreciar cada detalhe das ruas e vielas, mas no geral não é um passeio que dura mais que duas horas. A entrada é gratuita.


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